O curso
“Cinema de bairro” é uma expressão usada pelo cineasta periférico paulista Lincoln Péricles, tentando definir seu cinema como aquele que produz uma nova imagem do seu bairro, oposta a da mídia e do cinema comercial, imagens poéticas, de memória, de ancestralidade, de luta. O cinema de Lincoln reflete questões que vêm sendo levantadas por uma nova geração de cineastas que produzem suas obras nas periferias do Brasil.
Glauber Rocha, um dos criadores do cinema novo, movimento que praticamente fundou o cinema brasileiro nos anos sessenta, afirmou no seu manifesto “Estética da Fome” (publicado na Revista Civilização brasileira em 1965): “De Aruanda a Vidas Secas , o Cinema Novo narrou, descreveu, poetizou, discursou, analisou, excitou os temas da fome: personagens comendo terra, personagens comendo raízes, personagens roubando para comer, personagens matando para comer, personagens fugindo para comer, personagens sujas, feias, descarnadas, morando em casas sujas, feias, escuras...” Desde o cinema novo, passando pelo cinema marginal, de comédia, da retomada, é comum ver a figura do pobre na tela brasileira.
Porém, se o povo está na imagem, o mesmo não se pode dizer de quem trabalha atrás das câmeras. Tradicionalmente, o cinema nacional e internacional é feito pela elite. A partir dos anos 2000, o cinema de quebrada chega para inverter a ordem, os famintos não apenas são filmados, mas pegaram “a câmera na mão e a ideia na cabeça”, começaram a produzir suas obras, suas perspectivas. O nome disso é “processo democrático”, quando a diversidade de vozes na cultura se faz presente.
Por um lado, a grande relevância deste projeto é fomentar a democratização da arte cinematográfica, trazendo o processo de formação de novos cineastas para que conheçam formas de produzir seus próprios filmes, formarem seus coletivos. Por outro lado, trata-se de construir memórias dos bairros periféricos em que os filmes são feitos, no caso bairros de Guarulhos, abordando seus conflitos, alegrias, resistências, refletindo mudanças sociais e rompendo com o estereótipo da “cidade-dormitório”. Trata-se também de apresentar filmes que estão fora da indústria cultural, esta que predomina na periferia. Significa democratizar também a recepção e criar a identificação do público que vê seus conflitos na tela e reflete sua identidade. Por fim, o processo de formar é o de aprender, aperfeiçoando a produção e reflexão do Coletivo Companhia Bueiro Aberto, que leva a cabo este projeto.
MÓDULO 1: ROTEIRO E PESQUISA - JANAINA REIS
MÓDULO 2: DIREÇÃO - RENATO QUEIROZ
MÓDULO 3: PRODUÇÃO - ELIZABETH REGINA
MÓDULO 4: FOTOGRAFIA E ÁUDIO - MARCOS CAMPOS E RODOLFO SANTANA
MÓDULO 5: EDIÇÃO - DANIEL NEVES
MÓDULO 6: DISTRIBUIÇÃO E EXIBIÇÃO