Filme de bairro
Nas ruas, avenidas, monumentos, museus, estão presentes os nomes de uma história, são os eleitos grandes personagens que marcaram épocas, é a grande história. Mas onde estão os rostos/nomes dos Josés e Marias que ergueram nossa sociedade, onde estão as trajetórias dos anônimos, como disse Brecht, que ergueram a muralha da China, as pirâmides do Egito, o seu bairro? Mais ainda, quando esses Josés e Marias contaram essa história?
Já é uma tendência nos cineastas periféricos, uma nova geração de realizadores de comunidades, filmar o próprio bairro, a própria família, numa espécie de redescoberta, autodescoberta, confirmação, entender a si mesmo, com um olhar para se construir obras daquilo que está do nosso lado, das pessoas que conhecemos, dos lugares que moramos, da nossa família, de nós mesmos. O mergulho nesse universo nos abre uma variedade de museus pessoais, com fotos, cartas, objetos guardados e, claro, a estória contada na voz dos personagens. O nome “Filme de Bairro” surgiu em um debate que fizemos com nosso parceiro Lincoln Péricles, que produz seus filmes refletindo as imagens históricas do seu bairro, Capão Redondo. Percebemos como nosso cinema tem, entre várias perspectivas, aquela da regionalidade, de falar do que está próximo, de recontar a história. Por um lado, o filme de bairro reconstrói memória, por outro também se relaciona com a questão de produção, o filme de baixo orçamento, a facilidade de filmar alguém mais próximo. De certa forma, estética e produção se relacionam.